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quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Lia Luft, em seu livro “As meninas,” abre sua narrativa com algo muito pertinente sobre o mês de dezembro dizendo que este cheirava a pêssego.
Pêssego é uma fruta sinestésica.
O aveludado de sua pele o faz uma fruta quase carnal.
Seu suco é um néctar supra-sumo que sacia.
Seu aroma inebria.
Um pêssego não se come.. se  sorve.
À dezembro cabe encerrar um ciclo que trouxe momentos de alegria, de grandes realizações, mas também de adversidades, momentos de muita tristeza como é peculiar e intrínseco a cada um. Dezembro é como o epílogo de um livro que narrou perda, dores, satisfação e louros resumidos em seu desfecho.
No entanto, também não deixa de ser como um prólogo de um novo livro a ser escrito nos doze próximos capítulos e impressos em cada página da vida. Que gosto terão?

O pêssego talvez seja um regalo dos deuses (?), uma oferenda invertida destes para os homens emprestando a este último mês do ano um cheiro, um gosto de esperança como um... - não desista... pois por mais insondáveis que sejam os dias, ainda assim, existirão outros dezembros com cheiro de pêssegos no ar. 

quarta-feira, 23 de março de 2016

E tudo ficou simples em breves segundos...

- Tem horas seu moço? - É que comprei essas botas. - Acertei as horas? -  10 horas? - Aqui na cidade ta bom tênis, la chove. - La chove fica tudo embarrado. -Tem que ter bota. - Da Ilha é, trabalhador rural da Ilha. - Ah eu gosto de lá. - O bote sai as  onze, vou correr... bom dia seu moço.


sexta-feira, 11 de março de 2016

Ainda dá.

Ainda dá.

Sabe aquela minha arrogância?
Sabe aquela minha prepotência?
Sabe aquela  minha preguiça?
Aquela fraqueza minha, sabe?
Aquela vontade de tudo ter, sabes?
E todos aqueles erros infantis?
Pois então, sabes?
Fui juntando sem perceber
Melhor não ter... é só escolher não ter
Ainda dá...

(MC).

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

A inocência da fé

Era sempre um dia muito especial e esperado pelo ano todo. Um dia que iríamos ver a procissão marítima da Nossa Senhora dos navegantes.
Era parte do ritual jogar moedas durante a passagem da imagem da santa (moedas essas que posteriormente eram objetos de um obstinado mergulho de resgate) e que era anunciada por um foguetório e sendo conduzida por embarcações coloridamente ornadas com bandeirolas de papel de seda, sendo, portanto, um sinal de reverência e promessa de bonança financeira.
O próprio trajeto até a área da capitania era parte esfuziante do evento. Relacionado com a única saída programada dos nossos pais sendo este uma rara ocasião, e assim seguíamos juntamente com uma quantidade grande de pessoas da vizinhança até o local, conduzidos por nossos avós reconhecidamente por nós como pais empoderados, éramos então quatro netos como filhos considerados e assumidos.
Ele, o avô/pai com idade avançada com seu chapéu feito de feltro andava meio aos trôpegos, mas definitivamente resignado...  quanto  á ela, avó/mãe, lembro ser esta uma oportunidade impar que se permitia tirar o inseparável avental das lidas do lar, certificando-se sempre que as chaves da casa estavam em seu poder.
A casa, antes de sairmos era precavidamente fechada, a energia elétrica desligada e minuciosamente assim confirmada. E havia também um cão, chamado Tigre que com certeza deveria ser este o seu dia mais feliz, pois estar solta de suas amarras era um fato único.
Mas para mim, havia ainda uma relação com o local que implicitava fatos velados de minha origem paternal e, assim sendo, me emprestava de alguma forma uma orgulhosa importância secreta.
A prainha de água morna e de onde não deveríamos passar da altura da cintura estava impregnada de uma atmosfera lúdica. De magia. De esperança. E até de uma felicidade inquietante como as marolas que libertavam nossa algazarra e sorrisos.
Como se aquele dia feliz e esperado de um 2 de fevereiro longínquo, fosse capaz de reverberar para sempre e pudesse ser guardado nos recondidos da memória infantil para ser usado quando as forças faltarem ou o rumo se perdesse num futuro de incertezas.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O velho e a praça à beira mar

O velho e a praça à beira mar
Ela já poderia estar ali há muito tempo à esperar por ele...
Então ele acorda no banco....velho, cansado, roto...
Três cachorros companheiros lhe seguem com o manear da cabeça
Ele senta, passa os dedos gravelíneos entre as madeixas brancas, esparsas e compridas...
Lentamente coloca a cabeça entre as pernas, não se antes um olhar cúmplice aos amigos caninos
Ela, a praça, o reconhece, e isso é tudo o que ele precisa...
Enfim juntos... ele e a praça à beira mar... foram feitos um para o outro.
(M.C.)

Arrume tudo

Arrume tudo 

Ao menos feche as portas...
Do guarda roupa...
Do quarto...
Da cozinha...
Da saída, da entrada...
Feche as frestas, inclusive..

Se concerte.... você tem as chaves...